Conflitos

Certa vez atendi em meu consultório um rapaz com um pouco mais de 30 anos em grande sofrimento emocional.

Profissionalmente, sentia-se feliz e realizado. O único tempo em que conseguia desviar a atenção dos seus pensamentos conflituosos era o período em que trabalhava. Fora do trabalho, o rapaz sentia-se dominado por muitos pensamentos e emoções que o abalavam tanto mentalmente como fisicamente.

Em nossa vida, é comum nos depararmos com dos caminhos: A ou B, X ou Y e quando isso acontece é como se ficássemos estagnados durante um período que pode se estender por anos.

Este rapaz, por exemplo, namorou uma jovem durante anos e seu relacionamento era estável e tranquilo. Com o tempo, a relação se desgastou, o rapaz conheceu uma outra garota e se envolveu com ela.

Por um longo período, ele sentia-se culpado por ter traído a ex-namorada e não conseguia manter-se inteiro em seu novo relacionamento.

A situação se agravou quando este rapaz teve acesso à conta de e-mail da sua atual namorada e descobriu que ela se relacionava de forma carinhosa com seu ex-namorado. Ele ficou furioso e passou a sentir-se inseguro neste novo relacionamento.

Os três então passaram a viver em uma tríade de ataques e defesas. A ex-namorada, inconformada pelo término do namoro e por ter sido traída, passou a enviar, com frequência, mensagens ofensivas ao rapaz. A atual aceitava essas ofensas de forma passiva e ele, da mesma forma que era atacado, também atacava.

Quando eu ouvia os discursos deste rapaz, ficava refletindo nesta psicodinâmica e, utilizando de empatia, conseguia entender o nível de estresse que estas três pessoas estavam sentindo. Todos emocionalmente dependentes.

O rapaz em questão não vivia plenamente sua vida por não conseguir definir-se, não possuía metas individuais e tinha medo de perder uma das mulheres, ou as duas.

É como se ouvisse a voz de um anjinho e um diabinho.

O anjinho dizia: “Preciso fazer algo por mim”. “Estou infeliz comigo”, “Estou infeliz com as duas”. Por outro lado, o diabinho dizia: “Mesmo que você não esteja feliz, é melhor se manter assim”. “Você pode perder as duas”. “Você não sabe ser sozinho”.

“Vai que”… “E se”… Trata-se daquela voz da autossabotagem. E se você estiver se perguntando se já ouviu esta voz, lembre-se de algum momento em sua vida no qual você quis fazer algo diferente, inclusive para o seu bem, e não fez porque “vai que não dê certo”.

O grande desafio no processo de psicoterapia com esse rapaz, assim como para todos nós quando nos deparamos com situações de conflitos, é o de olhar-se.

Olhar para si e se autoconhecer, o fará entender a dinâmica, aceitá-la e a perceber novas possibilidades para atuar de forma diferente.

Focar naquilo que se quer que aconteça nos possibilita ouvir a voz no anjinho, como por exemplo: “Quero ter saúde”. Quando dizemos essa frase, mesmo que seja em pensamento, formamos imagem na mente do que é ser saudável, a nossa memória é ativada, que por sua vez, traz sensações prazerosas. Com crenças potencializadoras, será possível manter-se resiliente e constante para atingir este objetivo.

Ainda assim, é bem provável que ainda escutemos a voz do diabinho em diversas situações, pois antigos padrões de comportamento insistem em voltar. Ele quer te “proteger”, te manter na zona de conforto, que de confortável não tem nada, mas mesmo assim é mais fácil do que mudar…

E você escolhe…

… Vai ouvir quem?

Texto: Fernanda Mion
Psicóloga na Harmonie Instituto
CRP 06/71074

*É importante ressaltar que a identidade do rapaz citado no texto, não foi revelada para preservá-lo e manter o sigilo.

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